terça-feira, 24 de abril de 2007

A um ti que eu inventei

Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluír de tinta espessa e farta
e o passá-la em finíssima aguada
com um pincel de marta.

Um pesar grãos de nada em mínima balança
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir,

Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de louça
que apenas como o pensar te pudesses partir.


António Gedeão

7 comentários:

Unknown disse...

Eu penso em ti e "se regressar será aos teus olhos que regresso..." e toma um Neruda...só teu

Debajo de tu piel vive la luna.

Con casto corazón,
con ojos puros, te celebro, belleza,
reteniendo la sangre
para que surja y siga la línea, tu contorno,
para que te acuestes a mi oda
como en tierra de bosques o de espuma,
en aroma terrestre o en música marina.
Bella desnuda,
igual tus pies arqueados
por un antiguo golpe de viento o del sonido
que tus orejas, caracolas mínimas
del espléndido mar americano.
Iguales son tus pechos de paralela plenitud,
colmados por la luz de la vida.
Iguales son volando tus párpados de trigo
que descubren o cierran
dos países profundos en tus ojos.
La línea que tu espalda ha dividido en pálidas regiones
se pierde y surge en dos tersas mitades de manzana,
y sigue separando tu hermosura en dos columnas
de oro quemado, de alabastro fino,
a perderse en tus pies como en dos uvas,
desde donde otra vez arde y se eleva
el árbol doble de tu simetría,
fuego florido, candelabro abierto,
turgente fruta erguida
sobre el pacto del mar y de la tierra.
Tu cuerpo, en qué materia,
ágata, cuarzo, trigo,
se plasmó, fue subiendo
como el pan se levanta
de la temperatura
y señaló colinas
plateadas,
valles de un solo pétalo, dulzuras
de profundo terciopelo,
hasta quedar cuajada
la fina y firme forma femenina?
No sólo es luz que cae sobre el mundo
lo que alarga en tu cuerpo
su nieve sofocada,
sino que se desprende
de ti la claridad como si fueras
encendida por dentro.

Debajo de tu piel vive la luna.

b. disse...

Meu, só meu?
(Agrada-me vesti-lo sobre a pele fresca, para guardar-me o calor...)
... e penso em ti, em torno da lua que vive sob a pele...
"...é por isso estranha a forma como os acasos ardem para sempre..."
(Pensas em mim? Em que mim pensas?)

Unknown disse...

Penso em alguém que gosta do Tristão e Isolda, há um poema do J G de Araujo Jorge para se ler enquanto se ouve o Tristão e Isolda, muito bonito, quando o encontrar mando-o. Em algém que gosta de Visconti (sinceramente acho-o um bocado datado e chato) e tinhas uma frase no teu blogue que gostava muito e que já não tens, mas não me lembro qual era. Penso no que vejo, no que mostras

b. disse...

A frase no blogue seria "um sonho feito mulher, mulher de sonhos"? É a única que me lembro de ter substituído, mas o conceito permanece.
O Inocente é uma lembrança cálida. De cada um dos italianos (Bertolucci, Pasolini, Visconti, Antonioni) gosto de um modo particular... (Fellini é a regra e a exceção, amor absoluto, mas que se foi modificando com o tempo, sem deixar de ser amor).
Espero pelo poema, para ouvir-te junto com a música :)...

Unknown disse...

A frase era essa mesmo... porque a removeste? Do Bertolluci acho que é capaz de melhor e do pior, ainda ontem não resisti a comprar o 1900 na FNAC, um dia convido-te a vê-lo comigo... Antonioni sempre, Par Dela Les Nuages é das coisas mais bonitas que vi, para lá dos clássicos ele... o poema vai para os meus contos :)... mas é teu, para me ouvires junto com o wagner

Unknown disse...

E não dá para repetir o comentário no outro poste porque desactivaste os comentários... boto aqui

se regressar, será aos teus olhos que regresso.
os acasos ardem nos lábios dos amieiros que na margem do rio
aguardam que regresse. a isso regresso, buscando
coincidências e nomes, razões. afasto-me
provavelmente de ti, embora secretamente.

é por isso estranha a forma como os acasos ardem
para sempre. a outro rio e sob outras sombras
regresso, devagar para não ferir o que antes amei
e por quem morri muitas vezes. agora de novo morro

e por outro rio regresso até ao lugar onde elas, as aves,
nascem para não desaparecerem. e isso é como permanecer.


Francisco José Viegas

b. disse...

Logo vi que tinha feito uma trapalhada :(... o que devo fazer para reactivá-los?