sexta-feira, 27 de abril de 2007
... não foi preciso olhar o fundo transparente das palavras...
Amei a tua inquietação; e disseste-me que
te amei sem saber porquê, que as marés anunciavam
o luar que não chegou, que não foi preciso
olhar o fundo transparente das palavras
para que a sua verdade nos tocasse, que a tua mão
colheu o fruto da primeira árvore sem que nada
o impedisse.
Amei-te sem ter a certeza da manhã, sem ouvir
o vento que fez bater as janelas num eco do passado,
sem correr as cortinas do mundo para que
ninguém nos visse, sem apagar do teu rosto
o brilho da vida, enquanto as aves dormiam,
e o licor do sonho se derramava sobre os corpos
que cortavam a noite.
Mas ao seguir o seu rumo, o azul
floresceu das cinzas, a música despontou
dos silêncios da madrugada, e os teus olhos
amanheceram quando me disseste que
te amei, sem saber porquê.
Nuno Júdice
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4 comentários:
Para te dizer que adorei o regresso do sonho feito mulher...
CARTA (ESBOÇO)
Nuno Júdice
Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto,sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer.Muitas
vezes me lembrei de que esse sítio podia
ser, até,um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que,afinal, não conseguimos dizer.É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem á comunicação
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida,e que cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atras de si o próprio
ser,como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo.Então, é natural que voltes atras e
me peças:"Vem comigo!", e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia,que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caiem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas.No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e,por
trás disso, de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu,do mar,da terra,e do próprio dia em que nos vamos
encontrar, que há-de ser um dia azul,de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.
:)... ambos - o sonho e a mulher dele feita - regressaram aos teus olhos...
Por ter sentido que era para os meus olhos é que eu adorei :)
E continuando com o Nuno Júdice
"É nos teus olhos que o mundo inteiro cabe,
mesmo quando as suas voltas me levam para longe de ti;
e se outras voltas me fazem ver nos teus
os meus olhos, não é porque o mundo parou, mas
porque esse breve olhar nos fez imaginar que
só nós é que o fazemos andar."
:)
Quando vi essa postagem nos Contos, parei, respirei... olhei muito para ela, li repetidas vezes. Não encontrava nada tão bonito assim para devolver-te. Como agora, mas nesse instante... há Borges, bem em cima da cama de nuvens, especialmente pra ti. Daqui a um minuto. Beijo
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