terça-feira, 9 de outubro de 2007
habito este país de água por engano
escrevo-te a sentir tudo isto
e num momento de maior lucidez poderia ser o rio
as cabras escondendo o delicado tilintar dos guizos nos sais de
prata da fotografia
poderia erguer-me como o castanheiro dos contos sussurados junto
ao fogo
e deambular trêmulo com as aves
ou acompanhar a sulfúrica borboleta revelando-se na saliva dos lábios
poderia imitar aquele pastor
ou confundir-me com o sonho de cidade que a pouco e pouco
morde a sua imobilidade
habito neste país de água por engano
são-me necessárias radiografias de ossos
rostos desfocados
mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
repara
nada mais possuo
a não ser este recado que hoje segue manchado de finos bagos de
romã
repara
como o coração de papel amareleceu no esquecimento de te amar
Al Berto
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2 comentários:
Escreveu como um punhal este Al Berto...
Na maior parte das vezes sim... Tens razão, é cortante... e ao mesmo tempo belo...
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