segunda-feira, 16 de julho de 2007

Um pouco de Jacques Brel, para não nos deixar esquecer...


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Canção dos eternos amantes

Jacques Brel

É certo que tivemos nossas tormentas
em vinte anos de amor... desse louco amor...
Fizeste tuas malas mil vezes,
mil vezes também eu parti...
E cada móvel deste quarto
onde não há um berço
lembra-se bem da força
com que rebentavam
nossas velhas tempestades.

Nada mais lembrava o que fomos;
tu havias perdido o gosto pela água
e eu, o prazer da conquista.

Mas, meu amor,
meu doce, terno,
maravilhoso amor!...
Da clara aurora até o fim do dia
eu continuo a amar-te,
tu sabes,
amo-te.


Conheço todos os teus sortilégios,
e tu, todos os meus encantamentos...
Tu me poupaste, cuidaste de mim
a cada cilada da vida.

De tempos em tempos, eu te perdia...
Tiveste alguns amantes, é claro;
era preciso preencher o tempo.
E o corpo precisa de êxtase.

Enfim, enfim,
foi preciso muito talento
para envelhecermos e, ainda assim,
não virarmos adultos...

Ah, meu amor,
meu doce, terno,
maravilhoso amor!...
Da clara aurora até o fim do dia
eu continuo a amar-te,
tu sabes,
amo-te.


E quanto mais o tempo
nos segue os passos,
mais suplícios nos traz.

Mas não será viver em paz
a pior armadilha para os amantes?

É bem verdade que agora tu choras menos
e eu demoro mais a atormentar-me.

Protegemos menos os nossos mistérios,
deixamos menos trabalho para o acaso.

Desconfiamos até dum fio d’água,
mas é como viver,
sempre,
uma doce guerra.

Oh, meu amor,
meu doce, terno,
maravilhoso amor!...
Da clara aurora até o fim do dia
eu continuo a amar-te,
tu sabes,
amo-te.