segunda-feira, 11 de junho de 2007
Com o tempo...
Leo Ferré
Com o tempo...
Com o tempo tudo se acaba...
Esquecemos o rosto, esquecemos a voz; e quando o coração
bate mais forte
já não vale a pena partir, lançar-se ao mar, segui-lo aonde for...
melhor deixar estar... e tudo bem...
Com o tempo...
Com o tempo, tudo se acaba
O outro que adorávamos, que buscávamos mesmo em meio à chuva
o outro que adivinhávamos no cruzar de um olhar
- entre as palavras, nas entrelinhas e sob a máscara
dum juramento maquiado que sai a perder-se na noite...
Com o tempo, tudo se desvanece...
Com o tempo...
Com o tempo tudo se acaba
Mesmo as melhores lembranças têm para ti uma cara estranha
Na galeria vasculho as gavetas da morte,
na tarde de sábado, quando a ternura vai embora... sozinha...
Com o tempo...
Com o tempo acaba, tudo se acaba...
O outro em quem acreditávamos por um simples golpe de ar, por nada,
o outro a quem oferecemos o vento, as jóias,
por quem teríamos vendido a alma por alguns soldos
e diante de quem arrastávamo-nos como fazem os cães...
Com o tempo acaba, tudo fica bem...
Com o tempo...
Com o tempo acaba, tudo se acaba,
Esquecemos as paixões, esquecemos as vozes
que nos diziam baixinho as palavras dos humildes...
Não chegamos mais tão tarde,
e sobretudo não pegamos mais friagem...
Com o tempo...
Com o tempo acaba, tudo se acaba,
E a gente se sente exausto como um cavalo ferido
E a gente se sente congelado num leito de incertezas
E a gente se sente completamente só, talvez mais acomodado
E a gente se sente desfocado pelos anos perdidos – aliás, de facto,
Com o tempo, já não amamos mais...
(apeteceu-me arriscar-me e livre-traduzir...
para alguém que adora... e que adoro)
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3 comentários:
O que dizer... Estou sem palavras com esse texto lindo (de certeza não é para mim), com tantos poemas e sentimento.
Voltarei sempre
Um beijo
Antonio
Ahhh obrigada pelas palavras, Antonio... Volte sim, será um prazer enorme!
B.
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