quinta-feira, 19 de abril de 2007

Camera da letto




L. Cattaneo
Tua cama
é um limite que,
no espaço,
não transponho.
A noite venta em meus olhos
esperanças adivinhas.
O dia guarda teu rosto
em cheiros sobre os lençóis,
em dobras na colcha
mole, amassada,
abandonada ao fugidio calor.
Olho o travesseiro
distraidamente.
A frouxa desordem
me emociona devagar.
Ainda assim, mantenho-me
atada aos cetins
duma certa distância.
Da cabeceira, que à noite
se acende para receber-te,
me vêm hipóteses
que cruzam infinitos
e maremotos possíveis.
Tua cama,
teu reino faceiro
desnudo em mistérios,
onde dominas a noite
com archotes de lua
e entregas ao sonho
a claridade tua.


2 comentários:

Unknown disse...

E na tua cama:

Ternura
David MOurão-Ferreira



Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

b. disse...

:)
...ternuras frescas e ensolaradas são sempre boas de vestir...