As coisas que imaginamos
José Luís Peixoto
quando nos deitamos no sofá, o peso precioso da tua cabeça
sobre o meu colo, não há limite para as coisas que imaginamos.
imaginamos que atravessamos uma ponte sobre o rio.
imaginamos que somos a chuva a cair sobre o jardim.
imaginamos o tempo onde está o nosso filho.
imaginamos o lugar onde adormece.
deitados no sofá, sabemos que anoiteceu lá fora,
e sabemos que a pele do nosso filho nasce sob a tua pele.
imaginamos cada pormenor do seu rosto.
imaginamos os seus olhos grandes.
imaginamos que somos três a imaginar.